Você já ouviu a frase “quem trai uma vez, trai sempre”? Embora pareça um ditado popular e até preconceituoso, muitas pessoas conhecem alguém que trai em todos os relacionamentos e justifica dizendo que “não se aguenta”. Poucas atitudes conseguem destruir a confiança entre duas pessoas como a infidelidade. Além disso, a traição ocorre com muito mais frequência do que se admite. Para algumas pessoas, esse comportamento se repete de forma quase automática, criando um padrão difícil de quebrar. Então, é possível se viciar em trair?
A sexóloga Rosana Cidrão afirma que sim, a traição pode se tornar uma compulsão. “Embora pareça apenas uma questão moral ou de escolha, a traição envolve mecanismos neuroquímicos complexos”, explica.
O cérebro e o prazer da traição
Rosana detalha que, quando alguém trai, o cérebro libera substâncias como dopamina, serotonina e adrenalina. Essas substâncias aumentam a sensação de prazer, excitação e recompensa. Por isso, o comportamento da traição provoca efeitos semelhantes aos de outras ações aditivas, como jogos, compras compulsivas ou até uso de substâncias.
Além disso, a pessoa sente um “pico” emocional que a faz se sentir viva, desejada e poderosa, especialmente em momentos de insatisfação ou vazio afetivo. Então, a tendência é repetir o comportamento. Com o tempo, o cérebro passa a buscar novamente essa sensação, criando uma espécie de dependência emocional do risco e da novidade.
Quando a traição se torna um ciclo
A traição evolui para um ciclo compulsivo quando a pessoa começa a usar o ato como forma inconsciente de regular emoções negativas, como ansiedade, solidão, rejeição ou frustração.
Rosana explica: “Em vez de enfrentar suas insatisfações ou dialogar sobre o que falta na relação, a pessoa busca na traição uma fuga rápida. Esse comportamento gera alívio momentâneo, mas logo surge culpa, medo e vergonha”.
Além disso, algumas pessoas têm dificuldade em lidar com a previsibilidade e a estabilidade. Elas associam intensidade emocional ao amor e, por isso, se sentem atraídas pelo proibido, pelo novo e pelo desafio, mesmo que isso provoque sofrimento posteriormente.
Como superar a compulsão
Muitas pessoas acreditam que basta “não trair” para mudar esse comportamento, mas Rosana ressalta que a superação exige autoconhecimento profundo.
O primeiro passo consiste em reconhecer o padrão e entender seu significado emocional. A traição, muitas vezes, não reflete o outro, mas revela carências, inseguranças e dificuldade em sustentar vínculos autênticos.
O acompanhamento psicológico se torna essencial, pois ajuda a identificar gatilhos internos e substituí-los por respostas mais saudáveis. “Terapias voltadas à dependência emocional, impulsividade e autoestima oferecem resultados significativos”, explica a especialista.
Superar esse padrão significa aprender a se relacionar sem precisar do caos para se sentir vivo, transformando relacionamentos e promovendo bem-estar emocional.
Fonte: Redação
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