As vacinas contra gripe, Covid-19 e pneumococo, todas oferecidas gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde), protegem muito mais do que se imagina. Além de prevenirem infecções respiratórias, esses imunizantes reduzem o risco de infarto, AVC e agravamento de insuficiência cardíaca, segundo uma diretriz recém-publicada pela Sociedade Europeia de Cardiologia.

Revisão científica confirma os benefícios cardiovasculares
O artigo, publicado em 30 de junho no European Heart Journal, apresenta um consenso clínico baseado em estudos observacionais e ensaios clínicos randomizados. De forma clara, os pesquisadores demonstraram reduções importantes em hospitalizações, mortalidade e outros desfechos graves relacionados ao coração. Com isso, reforçaram que a vacinação atua como uma nova estratégia de proteção cardiovascular.
Especialistas explicam como a imunização protege o coração
De acordo com a cardiologista Raphaela Garofo, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, as vacinas evitam a descompensação de doenças já existentes e bloqueiam inflamações provocadas por infecções. Assim que o corpo enfrenta uma infecção respiratória aguda, ele ativa o sistema imune e inflamatório, liberando substâncias que podem desestabilizar placas de gordura nas artérias — o que, por consequência, pode levar a um infarto.
Dados apontam queda nos riscos com vacinação
Por exemplo, a vacina contra a gripe reduz em até 60% o risco de infecção e diminui em 30% os eventos cardiovasculares graves. Já o estudo IAMI, realizado com pacientes que sofreram infarto, revelou uma redução de até 41% na mortalidade cardiovascular entre os vacinados.
Além disso, a vacina contra o pneumococo proporcionou uma queda de até 10% no risco cardiovascular. Para Garofo, essa medida é altamente custo-efetiva, sobretudo diante do envelhecimento populacional e da crescente prevalência de doenças cardíacas.
Vacinas também atuam como prevenção secundária
O cardiologista Fábio Argenta, da rede Saúde Livre Vacinas, ressalta que os imunizantes não apenas previnem infecções, mas também reduzem internações, arritmias e mortes entre pacientes com doenças cardiovasculares. Portanto, a vacinação funciona como uma forma eficaz de prevenção secundária.
Covid-19 e outras doenças também aumentam o risco cardiovascular
Desde o início da pandemia, especialistas já observaram que a Covid-19 eleva significativamente o risco de infarto, arritmias, insuficiência cardíaca e até morte. Pacientes com doenças cardíacas anteriores têm cerca de 30% mais chances de desenvolver covid longa. No entanto, a vacinação reduziu esse risco em até 43%.
Além disso, outras vacinas mostraram impacto positivo. A vacina contra herpes zoster, por exemplo, demonstrou eficácia superior a 90% na prevenção da doença e contribuiu para uma queda de mais de 50% nos eventos cardiovasculares. Já a vacina contra o VSR (vírus sincicial respiratório), recomendada para idosos, protege com eficácia de 89%.
HPV também entra no radar da proteção cardíaca
Embora seja tradicionalmente associada à prevenção do câncer do colo do útero, a vacina contra o HPV também pode proteger o coração. Pesquisas associaram a infecção por HPV a um risco até quatro vezes maior de doença arterial coronariana e AVC. Por outro lado, em mulheres imunizadas, esse risco foi reduzido significativamente.
Diretriz inclui vacinação entre os pilares da cardiologia
Segundo Argenta, os dados vêm sendo confirmados por metanálises e revisões sistemáticas. Por essa razão, a nova diretriz europeia reconhece a vacinação como o quarto pilar da prevenção cardiovascular — ao lado do controle da hipertensão, diabetes e colesterol.
Cobertura vacinal ainda está aquém do ideal
Apesar dos benefícios comprovados, a adesão à vacinação ainda é baixa no Brasil. Garofo lamenta que, muitas vezes, médicos não recomendam a imunização durante as consultas, mesmo com vacinas amplamente acessíveis. Desde a pandemia, as taxas de vacinação caíram em diversos países, inclusive entre adultos e idosos.
Conforme dados do Ministério da Saúde, até o dia 18 de julho, apenas 44,79% do público prioritário havia tomado a vacina contra a gripe. Essa taxa segue abaixo da meta de 90%. Em relação à Covid-19, 86,78% da população recebeu duas doses. No entanto, somente 56,67% tomou a terceira dose, e apenas 19,83% recebeu a quarta aplicação.
Médicos e pacientes devem discutir a vacinação
Diante desse cenário, os especialistas recomendam que pacientes com doenças crônicas perguntem a seus médicos quais vacinas são indicadas para seu perfil. Além disso, as campanhas públicas de imunização precisam enfatizar a importância da vacinação para a saúde do coração.
“Não são apenas os idosos que se beneficiam. Pessoas com doenças cardiovasculares, gestantes, transplantados e imunossuprimidos também devem se vacinar”, afirma Garofo. “Vacinar é proteger o coração.”
Fonte: Redação
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