A participação dos jovens na política partidária de Anápolis está abaixo do esperado, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apenas 12% dos quadros dos partidos políticos na cidade são composto por jovens até 34 anos de idade, enquanto o grupo com 70 anos ou mais chega a representar 14% das agremiações. Essa disparidade é contrária ao que acontece na sociedade anapolina, onde o grupo etário com maior número de pessoas concentra-se entre os 20 e 34 anos, de acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Outro grupo sub-representado é o das mulheres. Apesar de representarem 53% do eleitorado no município, elas são apenas 47% nas discussões partidárias, evidenciando o afastamento da política institucional da população real. A faixa etária com maior representação e poder dentro dos partidos é a de 45 a 59 anos, que conta com 34% do total de filiados em Anápolis.
De acordo com a cientista política Ludmila Rosa, a ausência dos jovens na política partidária é reflexo de uma cultura analógica ainda presente nas agremiações. Ela destaca que os moldes tradicionais seguidos pelos partidos causam desinteresse por parte do público jovem, que muitas vezes se sente deslocado e questiona o distanciamento geracional.
Rosa também aponta que a nova geração se incomoda com a forma de atuação dos partidos, que reproduzem estruturas antiquadas e capitanias hereditárias. Essa insatisfação leva os jovens a abandonar a política partidária em busca de outras formas de participação e impacto social.
O professor de Ciência Política Guilherme Carvalho destaca que essa falta de representatividade da juventude na política não é apenas um problema local, mas sim nacional. Ele menciona que o Brasil passou por dois grandes períodos de filiações em massa, durante as Diretas Já e o movimento dos Caras Pintadas. No entanto, desde 2013, o país tem vivenciado o que ele chama de “boom reverso”, com a saída de militantes partidários desiludidos.
Carvalho argumenta que a política partidária está envelhecida e terceirizada para uma burocracia partidária que defende os interesses de uma mesma elite partidária consolidada no poder. Sem abertura e espaço para os jovens, não há alternância de poder e renovação política.
Quanto à participação das mulheres, Rosa destaca a inefetividade das leis que tentam ampliar essa presença nos partidos e nos espaços de poder. Embora existam ferramentas jurídicas, os partidos políticos e até mesmo o Judiciário e o Ministério Público não as cumprem adequadamente, permitindo fraudes nas cotas de participação feminina. Carvalho acrescenta que muitas mulheres na política tiveram como padrinho político algum homem já estabelecido nos espaços de poder, o que dificulta a inserção das mulheres de forma independente e igualitária.
Diante desse cenário, os analistas destacam que a sociedade produz uma “democracia desequilibrada” que não abarca mulheres e outras minorias representativas. A falta de espaço, protagonismo e participação efetiva afasta os jovens e outras minorias dos partidos políticos, limitando suas vozes e demandas.
Em contrapartida, com o avanço das tecnologias, o debate político migrou para as redes sociais. Embora essas plataformas sejam uma alternativa para os jovens se expressarem e terem suas demandas ecoadas, a política institucional ainda detém o poder de efetuar mudanças reais na sociedade.
Diante desse contexto, é necessário tornar a política atrativa para a juventude e grupos minoritários, oferecendo espaços de participação efetiva, ouvindo suas demandas e inserindo-os nas discussões e decisões partidárias. Além disso, o caciquismo e a falta de representatividade precisam ser superados para promover uma democracia equitativa e inclusiva. A participação dos jovens e das mulheres é essencial para garantir a alternância de poder e a representação de todos os segmentos da sociedade.