Vivemos numa época em que o cérebro quase não tem descanso. São notificações que chegam o tempo todo, vídeos curtos e acelerados nas redes sociais, música de fundo em praticamente todos os ambientes, e uma rotina cada vez mais barulhenta e visualmente carregada.
Esse excesso de estímulos visuais, auditivos e até emocionais tem causado um impacto profundo no nosso funcionamento cerebral.
O cérebro humano foi programado para prestar atenção em poucos estímulos por vez. Quando somos bombardeados por informações o tempo todo, entramos num estado constante de alerta. Isso aumenta a liberação de cortisol, o hormônio do estresse, e pode prejudicar funções cognitivas importantes como atenção, memória e tomada de decisão.
O resultado? Sensação de esgotamento mental, dificuldade de concentração e até crises de ansiedade.
Um dos maiores vilões dessa hiperestimulação são as telas. O uso constante de celulares, computadores e TVs, principalmente à noite, afeta a produção de melatonina, prejudicando o sono e, com ele, o processo de consolidação da memória. Além disso, o ritmo acelerado das redes sociais reduz nossa tolerância ao tédio e compromete a capacidade de foco sustentado — habilidade essencial para estudar, trabalhar ou manter uma conversa mais profunda.
A longo prazo, esse padrão pode contribuir para um declínio cognitivo precoce. Estudos já mostram que a exposição prolongada e excessiva a estímulos digitais está associada a alterações em áreas cerebrais relacionadas à atenção e ao controle emocional (Small, 2020; Christakis, 2019). Isso não significa que precisamos abandonar a tecnologia, mas que é urgente aprender a usar esses recursos de forma mais consciente, com pausas, limites e momentos de silêncio e descanso mental.
Nosso cérebro precisa de tempo para processar, integrar e descansar. Criar espaços de calma, reduzir ruídos desnecessários, fazer atividades ao ar livre e estabelecer limites no uso das telas são formas simples, mas poderosas, de proteger a saúde mental e cognitiva. Afinal, assim como o corpo, o cérebro também cansa e precisa de cuidado.
Rosiane R. Bernardo – Neuropsicóloga | CRP 09/10198
Colunista do Portal Viva Anápolis