O autismo em mulheres: por que tantas descobrem só na vida adulta?

Muita gente ainda pensa que o autismo é um transtorno exclusivamente infantil e que sempre é identificado cedo.

Mas a realidade é bem diferente, principalmente para as mulheres. O diagnóstico tardio tem sido cada vez mais comum, e isso não acontece por acaso.

Os critérios diagnósticos do DSM-5-TR indicam que o autismo envolve dificuldades na comunicação social e em comportamentos repetitivos ou restritos. No entanto, esses sinais se manifestam de forma diferente entre homens e mulheres.

Enquanto muitos meninos autistas apresentam dificuldades mais evidentes na interação social, as meninas costumam desenvolver algo chamado “camuflagem social”, uma habilidade de observar, imitar e mascarar suas dificuldades para parecerem neurotípicas. Isso significa que muito crescimento se esforça ao extremo para se encaixar, o que pode gerar um esgotamento emocional significativo.

Na prática clínica, vejo que muitas mulheres autistas adultas relatam uma sensação constante de inadequação, como se houvesse algo de “errado” nelas, mas sem entender o motivo. Além do cansaço do extremo social, é comum que haja hiperfocos intensos (muitas vezes vistos como “normais” ou até incentivados pela sociedade), hipersensibilidade sensorial (sensibilidade à luz, cheiros específicos, texturas de alguns alimentos, tecidos de roupas e etiquetas), e uma necessidade de rotina.

Também é frequente o histórico de ansiedade e depressão, já que passar a vida inteira mascarando as próprias dificuldades tem um custo alto para a saúde mental. Geralmente, são mulheres que já chegam ao consultório com esse histórico de diagnósticos.

O diagnóstico tardio pode ser libertador, pois ajuda a entender a própria trajetória e validar experiências antes de vistas apenas como “fragilidades” ou “estranhezas”.

Muitas mulheres que descobrem o autismo na vida adulta relatam um rompimento enorme por finalmente se considerarem e, a partir disso, conseguirem buscar estratégias mais alinhadas às suas necessidades reais.

Por isso, é essencial falarmos mais sobre o autismo em mulheres. A ideia de que o TEA só aparece na infância e que o diagnóstico é sempre óbvio, precisa ser desmistificado. Se você se identifica com esses sinais ou conhece alguém que pode estar nessa situação, procurar um profissional que compreenda as particularidades do autismo feminino pode fazer toda a diferença.

E diagnóstico não é um rótulo, pois faz parte do processo de autoconhecimento e é, por consequência, um ganho na qualidade de vida.

Rosiane R. Bernardo – Neuropsicóloga | CRP 09/10198

Colunista do Portal Viva Anápolis

 

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