David Fincher, com “O Assassino”, entrega uma narrativa envolvente que entrelaça meticulosidade, melancolia e a complexidade da condição humana. Neste filme, Michael Fassbender encarna um assassino profissional cuja vida, marcada por frieza e calculismo, é sacudida por um erro fatal. Este momento não é apenas um deslize no cumprimento de um contrato, mas um ponto de inflexão que desvenda camadas profundas de seu ser.
O roteiro, habilmente construído por Andrew Kevin Walker, contrasta com trabalhos anteriores de Fincher, como “Clube da Luta”, optando por um ritmo mais pausado que convida à introspecção. Fincher, conhecido por sua proeza em explorar os recantos mais sombrios da psique, principalmente masculina, aqui se destaca ao traçar um perfil detalhado de um homem que, em meio a um mundo sombrio, é forçado a confrontar emoções há muito suprimidas.
A volta de Fassbender às telas, após uma pausa de quatro anos, é notável. Seu desempenho captura a essência do personagem — um homem em constante estado de alerta, equilibrando-se entre a rotina mundana e a tensão intensa de sua ocupação. A adaptação da graphic novel de Alexis Nolent e Luc Jacamon, um projeto acalentado por Fincher durante duas décadas, ganha vida através de uma rica tapeçaria visual e uma narração serena que aprofunda a complexidade da trama.
A cinematografia de Erik Messerschmidt é um elemento crucial, ampliando a narrativa com sua abordagem meticulosa e estilizada. Cenas memoráveis, como o encontro do Assassino com a Especialista (Tilda Swinton) em um restaurante, usam luz e sombra para acentuar diálogos e simbolismos, capturando a natureza enigmática do protagonista. A fusão desta estética visual com a trilha sonora de The Smiths cria uma experiência cinematográfica única e memorável.
“O Assassino” se distingue não só pela atuação excepcional de Fassbender, mas também pela direção artística de Fincher, que utiliza todos os recursos narrativos e visuais para esculpir a complexidade de seu protagonista. O filme é uma jornada que desafia o público a adentrar no âmago de um personagem cuja trajetória é tão precisamente orquestrada quanto seu próprio método de operação, oferecendo uma visão íntima do profissionalismo inabalável e das complicações emocionais que permeiam a existência humana.