Doença desconhecida deixa 53 mortos em menos de 48 horas

Uma doença desconhecida matou 53 pessoas no Noroeste da República Democrática do Congo (RDC) desde o início de janeiro. Cerca de metade das mortes ocorreu em até 48 horas do início dos sintomas. O último boletim semanal sobre surtos e emergências emitido pelo escritório regional para a África da Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o cenário como “uma ameaça significativa à saúde pública”.

Pelo menos 431 casos foram registrados até o último dia 15, com uma taxa de letalidade de 12,2%. As queixas apresentadas pelas vítimas envolvem febre, vômito, diarreia, dores musculares, dores de cabeça e fadiga. Pesquisadores investigam a origem do surto e testam amostras para tentar identificar a doença. Ebola e Marburg, dois vírus semelhantes e altamente letais que causam surtos esporádicos no continente africano, já foram descartados como causas.

De acordo com o documento da OMS, o surto provavelmente surgiu em duas vilas separadas na província de Équateur. Ainda não se sabe se os casos nos dois locais de fato têm ligação entre si, ou se são dois eventos separados. Os primeiros registros foram rastreados até a vila de Boloko, onde três crianças com menos de 5 anos teriam morrido após comerem um morcego morto.

As três também apresentaram sintomas de febre hemorrágica, como sangramento pelo nariz e vômito com sangue, e morreram entre os dias 10 e 13 de janeiro. Depois, outras quatro crianças de Boloko, com idades entre 5 e 18 anos, também faleceram. Até o dia 27 do mês passado, havia pelo menos 10 casos e sete mortes acompanhados na vila, além de dois casos e um óbito na vila próxima de Danda.

Já no último dia 13, as autoridades de saúde da RDC relataram o segundo surto na vila de Bomate, na mesma província. Inicialmente, foram identificados 32 casos e 20 mortes entre 30 de janeiro e 9 de fevereiro. Até o dia 15, porém, com ações de vigilância em andamento, o número subiu para 419 casos e 45 mortes. Em Bomate, 48,9% dos óbitos ocorreram dentro de 48 horas do início dos sintomas.

Amostras de 13 casos de Bomate foram coletadas e enviadas ao Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica (INRB) na capital Kinshasa para análise no último dia 11. No dia 13, os resultados para Ebola e Marburg vieram negativos. “Diagnósticos diferenciais sob investigação incluem malária, febre hemorrágica viral, intoxicação alimentar ou hídrica, febre tifoide e meningite”, diz a OMS.

No final de janeiro, amostras de 4 casos de Boloko também já haviam sido encaminhados para análise no Laboratório Provincial de Mbandaka, onde também tiveram resultado negativo para Ebola e Marburg. Novos testes conduzidos posteriormente no INRB confirmam não se tratar dos vírus.

“Com Ebola e Marburg descartados, testes laboratoriais adicionais são essenciais para identificar o patógeno causador. A ausência de vínculos epidemiológicos claros entre as duas zonas de saúde pode sugerir eventos de saúde distintos. A geografia remota e a infraestrutura limitada de saúde agravam os desafios da resposta, com instalações médicas sobrecarregadas lutando para gerenciar os casos”, diz o relatório da OMS.

O documento cita ainda que “lacunas significativas” persistem, como ”capacidade laboratorial limitada, dinâmicas de transmissão pouco claras e vigilância deficiente”. Por isso, alerta que, embora medidas de prevenção estejam em andamento, elas “podem ser insuficientes caso a doença seja altamente transmissível”.

“É necessário apoio urgente para reforçar os serviços de saúde, acelerar os testes diagnósticos e engajar as comunidades a fim de prevenir novas transmissões, melhorar a detecção precoce e aprimorar a notificação de casos”, finaliza.

Michael Head, pesquisador sênior em Saúde Global da Universidade de Southampton, no Reino Unido, diz que “há uma enorme incerteza sobre esse surto”, mas reforça que eventos do tipo “ocorrerão muitas vezes em todo o mundo”.

“Normalmente, esses surtos são controlados com relativa rapidez. No entanto, aqui, é preocupante o fato de termos centenas de casos e mais de 50 mortes, com sintomas semelhantes aos da febre hemorrágica amplamente relatados entre esses casos”, diz em nota.

“Até o momento, os testes deram negativo para Ebola e outros vírus semelhantes, mas os resultados são conhecidos para um número relativamente pequeno de casos. Os testes nunca são 100% precisos e é provável que, com o aumento dos testes, tenhamos um patógeno confirmado em algumas dessas amostras”, continua.

Paul Hunter, professor de Medicina da Universidade de East Anglia (UEA), também britânica, relembra que no final do ano passado houve um surto semelhante de uma doença até então desconhecida na RDC. Testes posteriores revelaram se tratar de casos de malária agravados por um cenário de desnutrição.

“Até o momento, não tenho conhecimento de muitas informações sobre o problema atual (…) Certamente é possível que tenhamos um problema semelhante ao do último outono com a malária e a desnutrição. Mas precisamos aguardar os resultados das investigações em andamento para saber a causa”, afirma.

FONTE: O Globo

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