Anápolis já teve 4.689 notificações de casos de dengue nesse ano, de acordo com registro da Secretaria de Estado da Saúde (SES) em boletim epidemiológico referente ao período de 4 de janeiro a 9 de maio. A média chega a 37,5 registros por dia. Os hospitais não param de receber suspeitos de ter contraído dengue, que embora tenha uma alta taxa de cura, pode apresentar complicações que levam à morte. São dois óbitos em investigação na cidade até o momento; 60 em Goiás, com outros 18 já confirmados.
O mosquito da dengue, o Aedes aegypti, também transmite a chikungunya e o Zika vírus – esse último, o Ministério da Saúde confirmou sua circulação no País nessa semana. O local para reprodução desse inseto, tão prejudicial ao homem, é conhecido de qualquer brasileiro: água limpa. Poucos mililitros em uma tampinha de garrafa já são suficientes. Apesar disso, a mesma pessoa que reclama do avanço da dengue, e vê amigos e parentes infectados, segue jogando lixo em qualquer lugar, infestando a cidade de criatórios do Aedes aegypti.
Os resultados do segundo ciclo do Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa), de março e abril de 2015, divulgados nessa última semana, indicam que 52,4% dos criadouros do mosquito da dengue em Anápolis estão no lixo. Ou seja, mais da metade. A epidemia que cresce a cada dia surge a partir da falta de educação daqueles que descartam lixo em qualquer lugar e da incapacidade do poder público de vencer essa demanda, maior ainda em época de chuva, com o mato alto tomando conta de terrenos baldios.
Em Anápolis, o LIRAa ficou em 0,7%, considerado satisfatório, embora a cidade ocupe o 3º lugar no ranking de notificações da dengue. Essa colocação talvez não sensibilize moradores a cobrir cisternas, tambores, tinas ou piscinas: 15,9% dos focos do Aedes aegypti são encontrados nesses recipientes.
Outros itens que proporcionam ambiente para o desenvolvimento do inseto são: pneus com 12,7%, pequenos depósitos móveis (vasos de plantas, bebedouros de animais e baldes), em 14%; pequenos depósitos fixos (calhas, lajes, vasos sanitários e ralos de banheiro), em 6,3%; criadouros naturais (ocos de árvores, ocos em pedras e flores), em 1,6%; e reservatórios de água elevados (1,16%).
Descuido
O médico infectologista Marcelo Daher, assessor técnico da Secretaria Municipal de Saúde, disse recentemente ao JE que o descuido da população com tudo aquilo que pode acumular água e servir para a procriação do mosquito da dengue é latente. “Não adianta achar que vai se resolver com fumacê. Se fosse assim pulverizávamos a cidade com avião. O veneno mata o que está voando, mas polui rio e contamina o meio ambiente”, comentou.
Em relação a Goiás, a superintendente de Vigilância em Saúde da SES, Maria Cecília Martins Brito, afirmou que os índices de infestação identificados pela pesquisa são preocupantes, com 29 municípios em alto risco (infestação maior que 3,9%) e 100 municípios em alerta (entre 1 e 3,9%). “Esse resultado demonstra que mais do que nunca, os gestores municipais devem intensificar as mobilizações sociais no combate à dengue”, alertou.
A superintendente analisou que os dois principais criadouros estão diretamente ligados à atuação da população – hábitos inadequados de descartes e acúmulo de água para consumo – e do poder público, responsável pela coleta e destinação de lixo, limpeza pública e fornecimento de água. “Isso deve ser levado em consideração pelos gestores municipais para desenvolverem estratégias de enfrentamento e ações educativas voltadas para a mudança de hábito da população”, considerou.
Ciclo
O ciclo da doença começa quando a fêmea do mosquito Aedes aegypti pica uma pessoa com dengue. É necessário de 8 a 12 dias para o vírus se reproduzir no organismo do mosquito. Após esse tempo, ele já pode transmitir o vírus causador da doença, picando uma pessoa sadia. Dentro de 3 a 15 dias, a doença começa a se manifestar na vítima. É nesse momento que os sintomas da dengue podem ser percebidos. A fêmea vive de 30 a 45 dias e, nesse período, pode contaminar até 300 pessoas.
Fonte: Jornal Estado de Goiás