Aos 26 anos, Damaris Vitória Kremer da Rosa teve a vida interrompida por um câncer de colo do útero apenas 74 dias depois de conquistar a liberdade. O Tribunal do Júri de Salto do Jacuí (RS) declarou sua inocência, mas o reconhecimento chegou tarde demais. Durante seis longos anos, ela ficou presa injustamente, acusada de participar de um homicídio ocorrido em 2018 — uma acusação sem provas que destruiu sua juventude.
UMA HISTÓRIA MARCADA PELA INJUSTIÇA
Tudo começou em agosto de 2019, quando a polícia prendeu Damaris preventivamente sob a suspeita de envolvimento na morte de Daniel Gomes Soveral, em Salto do Jacuí. Na época, o Ministério Público afirmou que ela teria atraído a vítima até o local do crime a pedido de dois homens: Henrique Kauê Gollmann, condenado posteriormente, e Wellington Pereira Viana, que acabou absolvido.
Desde o primeiro momento, a defesa lutou para provar sua inocência. Os advogados, Rebeca Canabarro e Mateus Porto, apresentaram uma versão consistente: Damaris havia contado ao namorado que sofrera um estupro cometido pela vítima, e essa revelação teria motivado a reação isolada do homem que cometeu o homicídio. Mesmo assim, a Justiça manteve a jovem atrás das grades, ignorando pedidos de liberdade provisória e desprezando a fragilidade da situação.
Durante os seis anos de prisão, Damaris passou por diferentes penitenciárias do Rio Grande do Sul — Sobradinho, Lajeado, Santa Maria e Rio Pardo —, sempre tentando demonstrar que não tinha qualquer envolvimento com o crime. No entanto, a morosidade do sistema e a falta de sensibilidade das autoridades transformaram sua vida em um pesadelo sem fim.
A DOENÇA IGNORADA PELA JUSTIÇA
Enquanto tentava provar sua inocência, Damaris começou a sentir dores intensas e sangramentos. Mesmo relatando os sintomas por diversas vezes, ela não recebeu a devida atenção. Com o tempo, os médicos diagnosticaram câncer de colo do útero. A defesa apresentou laudos e pedidos de tratamento, mas o tribunal rejeitou os documentos e afirmou que se tratavam de “meros receituários sem diagnóstico”.
A doença avançou rapidamente. Só em março de 2025, quando o estado de saúde de Damaris já era considerado terminal, a Justiça finalmente converteu a prisão em domiciliar. Mesmo debilitada, ela precisou continuar usando tornozeleira eletrônica, inclusive durante as sessões de quimioterapia e radioterapia. O sofrimento se intensificou, mas Damaris seguiu lutando até o fim — com coragem e dignidade.
LIBERDADE TARDIA E DESPEDIDA DOLOROSA
Em 13 de agosto de 2025, o júri popular absolveu Damaris de todas as acusações. Ela chorou ao ouvir o veredito e disse que, enfim, poderia recomeçar. Entretanto, o corpo não resistiu à doença. Em 26 de outubro, pouco mais de dois meses depois de ser considerada inocente, Damaris morreu em Balneário Arroio do Silva (SC), onde cumpria a prisão domiciliar.
O corpo da jovem foi sepultado no Cemitério Municipal de Araranguá, em meio a uma multidão de familiares e amigos comovidos. A despedida se transformou em um grito contra a injustiça. Todos lembraram a força e a esperança de uma mulher que acreditava que a verdade prevaleceria.
A história de Damaris escancara, mais uma vez, como a lentidão e a negligência do sistema penal brasileiro destroem vidas. A jovem não apenas perdeu a liberdade, mas também teve o tempo — e a saúde — roubados por um erro que jamais será reparado.
Fonte: Redação
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