Nunca foi tão curto o tempo entre um livro de Chico Buarque e o lançamento do seguinte: dois anos. Torna-se tentador imaginar “Anos de chumbo e outros contos” como uma espécie de continuação do anterior, “Essa gente”, que traçou um retrato explícito do Brasil sob Jair Bolsonaro — de sua eleição em 2018 e do início de seu governo em 2019.
E há sinais disso nas duas primeiras histórias e um pouco na terceira. Porém, embora possa ser visto como um livro também político, é, antes de tudo, um livro literário, se a redundância for perdoável.
Ao publicar, pela primeira vez, um volume de narrativas curtas — previsto para chegar às livrarias no próximo dia 22, junto com uma edição especial de “Estorvo”, primeiro romance do autor —, Chico cumpre um destino que era, pode-se dizer, incontornável.
Não faz sentido ainda ficar comparando o compositor com o escritor, pois o segundo já mais do que provou ser excelente — e o primeiro é insuperável. Mas alguém que, como letrista, sabe condensar universos em versos, não podia deixar de exercer seu poder de síntese também na prosa. Após seis romances, a hora chegou. Valeu a pena esperar.
Fonte: O Globo